PÉ NA AGARRA CONQUISTA VIA NO QUIRIRI

Relato do escalador Rafael Scheffer

QUIRIRI: do Tupi Guarani significa silêncio noturno.


A região do Quiriri está situada ao norte do estado de Santa Catarina, fazendo divisa com o Paraná, abrangendo os municípios de Campo Alegre, Tijucas do Sul, Garuva e Joinville, fazendo parte da Serra do Mar. É caracterizada em grande parte por campos de altitude , sendo mesclada com vales profundos de densa mata atlântica e morros chegando a altitudes superiores aos 1500 metros acima do mar, configurando cenário de rara beleza.

O Quiriri tem um papel muito importante na geografia da região, pois é berço de inúmeras nascentes que abastecem Joinville, alem da nascente do Rio Negro, rio que faz grande parte da divisa dos estados de Santa Catarina e Paraná.

Eu conheço a região desde que me conheço por gente, tendo feito vários trekkings com colegas escaladores e familiares, tendo explorado incontáveis quilômetros, sempre conhecendo lugares diferentes e em situações climáticas bem adversas e muitas vezes hostis. Lá você pode experimentar as quatro estações do ano em um único dia, fazendo com que a aventura seja mais intensa e com o efeito surpresa. Assim foi, de certa forma, tal conquista de uma via de escalada na Pedra do Um (Pedra do Lagarto).

Saímos eu e o Rodrigo Gonçalves no dia 23 de fevereiro de 2009 rumo ao Quiriri, com o intuito de avaliar se era possível e viavel a escalada naquele local. Levamos alguns friends, fitas mosquetões e outros necessários para explorar a via, sendo que, se realmente valesse a pena, voltaríamos com equipamento completo em outro momento. Deixamos o carro e iniciamos um trekking tranqüilo de 3 quilometros até a pedra. O sol estava ardente e tornou a caminhada cansativa, mesmo com pouco equipamento, mas havia mais ao longe, em direção sul, uma formação de nuvens que nos preocupava. Seguimos mesmo assim a caminhada duvidosa, digo duvidosa em relação a escalada propriamente dita ...rsrs.

Após uma hora de caminhada chegamos na Pedra do Um, relaxamos um pouco, e montamos uma parada em móvel para descer e verificar o sistema de fendas de tal via. À medida que rapelava, fui sendo tomado pela emoção e potencial das placas e fissuras que cortavam de cima a baixo o rochedo de aproximadamente 20 metros. A partir da base da via, nós ainda fizemos uma exploração mais ao fundo do rochedo, contornando –o para verificar outras possibilidades. Retornamos ao cume, almoçamos e começamos a nos concentrar na escalada, já que o tempo estava ficando curto, pois a formação de nuvens negras se intensificava e se aproximava. O vento já estava uivante, e mais ao longe, talvez uns dois quilômetros, já havia uma cortina de chuva (tempestade) que pela direção do vento provavelmente passaria bem próximo de nós ou nos pegaria.

Novamente descemos e começamos a nos preparar para escalar. A idéia era de já ascender a via guiada em móvel, mas não iria dar tempo pois algumas pequenas brisas de uma fina garoa, por vezes soprava nos acelerando mais ainda. Resolvemos fazer em top mesmo para sentir a via, pois se saíssemos dali sem tocar a rocha iríamos ter um ataque de nervos e ansiedade...rsrs. Escalei a via duas vezes, confirmando a escalada e nascendo a primeira via esportiva em móvel da Pedra do Um.

“Fissura Pé na Agarra” é o nome da via. Uma linha composta na maioria por movimentos de oposição em placas, variando com passadas de entalamento de mão e punho, raros regletes, alguma aderência para os pés e outros, dependendo da criatividade e resistência de cada um. Via excelente, no puro estilo da escalada limpa. No final da escalada arrumamos rapidamente as coisas mas não teve jeito, a chuva nos pegou sem piedade e com força..rsrs.

Como apenas um escalador até o momento completou a via, sugiro a graduação, sem sacar as pecas, de 8a .Ficando assim a confirmação do grau quando outros escaladores tiverem feito a via.

Nome da via: Fissura Pé na Agarra

Data da conquista: 23/02/2009

Escaladores: Rafael Scheffer e Rodrigo Gonçalves

Localizaçao: Pedra do Um, Quiriri, SC

Obs:. Procuramos por outros relatos sobre escaladas na “pedra do Um”, porém não encontramos nada que sugerisse sua conquista, logo batizamos a via.